A sombra do que foi outrora a ilustre quinta do Dr. Bissaya Barreto - Portugal
Quando visitei este lugar, confesso que senti alguma comoção e revolta, pois apesar de ser uma casa que demonstrava ter sido nos seus tempos áureos um edifício com certo ar revivalista, e requinte arquitectónico bem interessante, foi palco e lugar de preferência de duas personalidades bem ilustres como por exemplo o Professor Julio Augusto Henriques e o Professor Bissaya Barreto. Apesar disso não foi poupada pelo seu estado de abandono, a atos de vandalismo. Algumas medidas foram tomadas, como tendo as portas e janelas sido emparedadas com blocos de cimento. Nem assim, conseguiu evitar que muitas das coisas do edifício, como por exemplo seus balaústres dos varandins, telheiros e escadórios, e muita coisas fossem furtadas e partidas, encontrando-se completamente á mercê de pessoas medíocres e menos sensíveis para com o património.
Por esse motivo não vou divulgar o nome do lugar como forma de preservar o local para que não seja mais vitima destes atos, apenas vou divulgar que pertence ao distrito de Coimbra, pedindo para aqueles que conhecem não o fazerem. Contudo peço a compreensão de todos, esta minha atitude.
A quinta pertenceu numa primeira fase a Júlio Augusto Henriques que nasceu em (Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto), a 15 de Janeiro de 1838, filho de António Bernardino Henriques e Maria Joaquina, sendo mais conhecido por Júlio Henriques, foi um botânico, micólogo, pteridólogo e algólogo, professor na Universidade de Coimbra, onde foi o grande impulsionador da introdução dos modernos estudos botânicos em Portugal. Fundou a Sociedade Broteriana e desenvolveu e consolidou o Herbário da Universidade de Coimbra e o Jardim Botânico de Coimbra. Realizou extensas expedições botânicas em Portugal, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Na extensa rede científica que estabeleceu, participaram como colectores naturalistas e amadores de múltiplas regiões portuguesas e das colónias africanas, bem como cientistas de toda a Europa, tendo grande parte de sua vida sido dedicada a Coimbra, onde prestou seus estudos científicos ao serviço da Botânica, vindo a Falecer a 7 de maio de 1928 (90 anos) em Coimbra.
Mais tarde a quinta, foi comprada pelo Dr Fernando Baeta Bissaya Barreto Rosa, mais conhecido por Bissaya Barreto, foi um professor de Medicina da Universidade de Coimbra e político. Entre outras funções, foi deputado à Assembleia Nacional Constituinte (1911), dirigente do Partido Republicano Evolucionista e depois da União Liberal Republicana. Após o golpe de Estado de 28 de maio de 1926 aderiu à União Nacional, de que foi um destacado dirigente.
Bissaya-Barreto fez parte da Comissão Central da União Nacional, em 1932, juntamente com Manuel Rodrigues, Armindo Monteiro, Lopes Mateus, e sob chefia de Salazar, foi, ainda, Presidente da Junta de Província da Beira Litoral, procurador à Câmara Corporativa e, ao longo do tempo, desenvolveu uma importante ação no campo social e da saúde pública.
Impulsionou sanatórios, leprosarias, casas da criança, refúgios para idosos, institutos maternais, bairros económicos, campos de férias, colónias balneares, estando à frente da campanha de luta contra a tuberculose, a lepra e as doenças mentais.
À sua iniciativa se devem os Sanatórios de Celas, onde posteriormente funcionou até 2011 o Hospital Pediátrico de Coimbra, e dos Covões, atual Hospital dos Covões. Também a criação da Maternidade Bissaya Barreto, o Hospital Sobral Cid, o Hospital Psiquiátrico do Lorvão, o Hospital Rovisco Pais (o qual foi uma moderna leprosaria) o Hospital da Figueira da Foz, entre outras instituições que ainda se encontram em funcionamento.
Criou também a Escola Normal Social, e ainda o Portugal dos Pequenitos, em Coimbra.