Paredes meio encobertas pela Hera, surge diante as ruinas de um velho convento - Portugal

Paredes meio encobertas pela Hera, surge diante as ruinas de um velho convento - Portugal

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Paredes meio encobertas pela Hera, surge diante as ruinas de um velho convento - Portugal
As ruinas do velho convento de Vilares, da ordem terceira dos frades Franciscanos, localizam-se na Freguesia de Marialva - Concelho de Mêda - Distrito da Guarda, tendo sido construído em1447 pela Ordem Terceira de São Francisco. D. Filipe IV de Espanha (III de Portugal) (1605-1665) quis transformar Portugal numa província espanhola, eliminando a autonomia de que o reino português ainda usufruía. Uma situação que, aliada ao aumento de impostos, fez crescer o descontentamento popular, determinou que as câmaras das vilas de Marialva, Mêda e Longroiva contribuíssem com 95 mil réis, durante um período de três anos, para fazer obras de restruturação, ampliando alguns espaços do convento de Vilares. O convento fica a cerca de meia légua a ocidente da vila de Marialva, tendo por devoção a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, origem e devoção desta imagem, vem desde os tempos das Cruzadas da Terra Santa, a imagem que aqui era consagrada que se encontrava neste convento, de braços estendidos para o povo, atraía a devoção de muita gente, que ali afluía em peregrinação e penitência. No convento chegaram a estar cerca de trinta religiosos, ajudando os párocos a confessar e a pregar. Viviam de esmolas. Em 1834, no âmbito da Reforma geral eclesiástica empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens, com a exceção das mulheres religiosas sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo. Este encerramento decretou o fatídico destino também deste convento de Vilares, que apesar de tudo parece ter tido algum reaproveitamento para fins agrícolas, depois da extinção e abandono dos frades Franciscanos, abandono esse, quase feito de forma imediata por pertencer a uma ordem masculina, tendo sido feito o confisco dos respectivos bens patrimoniais, tanto religiosos como artísticos, sendo tresmalhados pelas mais poderosas famílias de Marialva, Carvalhal e Valflor. Foi numa dessas distribuições que aconteceu que a imagem de Nossa Senhora ter sido separada do seu menino, que se encontrava nos seus braços. Os populares de Marialva, principalmente as mulheres, queriam recuperar a imagem do Menino, uma vez que na posse deles já se encontrava a imagem de Nossa Senhora. Diziam algumas mulheres: “É uma esmola e uma bênção ir tirá-lo da igreja de Valflor.” Vai daí, engendraram uma estratégia, para se apoderarem também da imagem do menino; aguardaram um dia de festa em que toda a gente saia em procissão da aldeia, altura em que a igreja ficaria vazia. Três homens de Marialva entraram na igreja de Valflor sem que fossem vistos, cumprindo a missão à risca, retirando a pequena imagem do menino do altar, dissimulando-a entre um pano da sacristia. Depois de ser embrulhado á pressa, saíram da igreja de Valflor, sem prestarem as devidas cautelas na saída. Houve alguém que os viu tão furtivos, que logo deu o alarme, juntando-se logo de seguida, meia dúzia de homens que lhes tolheram os passos. Um deles perguntou apontando para o embrulho: “ O que levais debaixo do braço?” O interpelado apenas hesitou alguns segundos e respondeu com algum nervosismo: “É um cabritinho para o senhor padre!” Os de Valflor desconfiados, conformaram-se com a resposta um tanto duvidosa. Podiam querer ver a oferta, mas isso podia ser considerado uma desfeita que faziam ao sacerdote, deixando os de Marialva prosseguirem a sua fuga com o menino escondido sobre o tecido, mas que a toda a pressa saíram dali antes que fosse descoberta a verdade. Quando os de Valflor deram pela falta, já era tarde; desconfiaram de quem tinha sido a proeza, mas os de Marialva mantiveram o Menino escondido durante algum tempo até serenarem os ânimos e o restituírem o menino á sua origem, dos braços de sua mãe, Nossa Senhora dos Remédios. Atualmente o Convento encontra-se muito degradado, estando invadido por hera, silvas e árvores, que contribuem para arruinarem ainda mais suas paredes. De ano para ano a degradação aumenta, as pedras desaparecem, não havendo qualquer controlo; roubadas para ornamentarem qualquer edifício moderno. O património arquitectónico pertence a todos, e como tal temos o direito a usufruir dele contribuindo de certo modo também para a sua preservação, tal como nos foi deixado pelos antepassados, sendo uma falta de respeito ao próximo a usurpação de bens culturais que são de todos nós, para que todos os possamos admirar no seu verdadeiro lugar ao qual pertencem. Para isso devemos exigir das nossas autoridades a salvaguarda destes tesouros, mas ao mesmo tempo não impedindo ninguém de os poder ver e apreciar. Fundamental encontrar formas seguras de proteger e salvaguardar estas preciosidades patrimoniais, de toda a espécie de risco, tanto de vandalismos, como da própria erosão natural do tempo.