TREKKING NA FERROVIA DO TRIGO DESTRUÍDA
Era o dia 24 de agosto de 2024 quando iniciamos uma caminhada de dois dias, aproximadamente 33 km pela Ferrovia do Trigo. Já se passavam quase quatro meses do desastre natural que acabou com parte da malha ferroviária do RS, principalmente o trecho entre Guaporé e Muçum, causando muitos desmoronamentos e uma destruição que é difícil explicar com palavras. Estávamos entre 17 aventureiros e sabíamos que o trajeto iria apresentar dificuldades para completar, que havia muitos obstáculos, crateras, túneis semiobstruídos e túneis alagados. Como precaução, mapeamos os possíveis desvios, levamos rádios comunicadores e mapa descritivo do trajeto para nos localizarmos com maior precisão.
Quando iniciamos a caminhada, havia adrenalina misturada com frio de ~6º e desconforto da pesada mochila, tivemos uma breve conversa para caminharmos mais próximos, não abusar da margem de segurança e nem do limite das pessoas, pois o caminho ia ser difícil e talvez seria necessário fazer alguns desvios, mas estávamos decididos em passar tudo na ferrovia que fosse possível, pelo menos tentar, a fim percorrer e registrar o máximo possível do trajeto desde Guaporé até Vespasiano Corrêa, no V13.
Foram dois dias de desafios, passar os obstáculos depositados pela Natureza na ferrovia não foi fácil pois o peso da mochila multiplicava o nível de dificuldade do trajeto. Encontramos partes alagadas, trechos com lama que atolava até a canela, montanhas de terra com pedras e galhos, havia também crateras feitas pela força da água deixando os trilhos no ar, túneis semiobstruídos e túneis parcialmente alagados.
O primeiro dia foi uma caminhada de ~23 km, encerrando no Viaduto Pesseguinho. Acampamos no Recanto da Ferrovia, na propriedade do Sr Clair. Era uma noite muito fria (2º C) que foi quebrada pontualmente pelo calor da fogueira, que ardia até bem tarde da noite, envolta dos aventureiros que contavam suas histórias e compartilhavam experiências diversas ao som de música ambiente.
Dia 25 a alvorada foi às 6h, mas somente pelas 6h30 estavam todos de pé desarmando a “pousada temporária”. Às 7h30 iniciamos a caminhada do segundo dia, encontramos tantas dificuldades quanto no primeiro dia, mas a distância deste segundo trajeto era menor. Sabíamos que teria túnel inundada junto a Cascata Garganta do Diabo, o desvio por estrada era possível e longo, mas não teria o mesmo valor se ao menos não tentasse enfrentar esse desafio. Passamos pelo túnel inundado, até então desviado pelos aventureiros que antecederam esta expedição, foi uma experiência tensa pois não tinha como saber a profundidade e se havia algo na água que pudesse causar lesões ou trancamento dos membros inferiores. Ainda bem que a coragem nos encontrou, foi uma ótima experiência desbravar o túnel inundado, mesmo saindo tremendo de frio poia a água estava tão gelada como o ar. Após a passagem no túnel, a paramos para trocar as roupas molhadas e aproveitamos para almoçar. O restante do caminho seria de mais ou menos dois quilômetros, ainda com obstáculos.
No início da tarde chegamos ao Viaduto 13, o maior viaduto ferroviário da América Latina e segundo do mundo. Descemos a extensa ladeira até os pés do V13, onde aguardamos a chegada do transporte para o fim de nossa aventura.
A Trekking na Ferrovia do Trigo foi algo impressionante! Ficamos pasmos com muitos cenários de destruição, em momentos bateu uma tristeza por quem se alimentava do turismo que se estabeleceu com as visitas e passeios pela ferrovia. Por outro lado, ao invés de destruição, vimos a natureza sendo natureza, tentando recompor a inclinação de suas encostas, tapando as fendas abertas pelo homem. Para uns foi muita perda, para quem ama trilha e natureza a “Ferrotrilha do Trigo” está melhor ainda, mais bonita, mais desafiadora e mais divertida.
Idealizador desta aventura: João Paulo Aires ou Mano JP
Fizeram parte desta aventura:
João Paulo, Vanessa, Cairo, Maclaine, Matheus, Franciele, Leonardo, Tiago, Diego, Ruan, Maicon, Davi, Fabio, Leon, Gabriel, Fernando, Ricardo Mazin.
Obs.: Usei algumas imagens cedidas pelo João Paulo e pelo Fabio.
Imagens e edição: Ricardo Mazin Monteiro